Que comece o espetáculo,
no entretempo do "es-passo",
tem crianças na praça que ziguezagueiam...sai dali um ruído musical.
Som sem gramática
escapam e
riem cantando...
seres umbilicais
giram para desenrolar.
Para não apagar
o fundo sangue
em praga-dupla-face,
um roteiro de memórias
Quem...da janela assiste?
Alguém da cobertura olha e pergunta: quem é você?
mas é que ali, onde o vento sopra, habita uma queda
e o coração ESP(r)E(i)T(a) entre o lobo o mar revolto.
É o poema do tempo próprio
A viagem para um "sabe-se lá" parece ainda não terminar. Náuseas e Vertigens
que cavam dores do sangue pungente que aprisiona
em segundos infinitos nas cóleras deste tempo.
Des-equilíbrio.
Cortejo para não chorar
é cidadã de bem.
É! mas a gente feita de queda tenta outros caminhos...
e passam a olhar um outro caminho. Seguem (s)em futuro.
quem será a escolhida?
Vai salvar o mundo da saudade?
...assim o mundo gira. Que comece o espetáculo!
EDITORIAL
Com amor, prazer e perdição, a Revista CIRCUITO chegou à sua edição nº8. Neste tempo construído e nomeado nos rastros de um vírus, cujas organizações e hierarquias foram postas à prova, nos foi (e vem sendo) sentido como o andar de uma bailarina ou um equilibrista na corda bamba esticada entre o céu e a terra. Se esteve mais perto do céu ou da terra, cabe a cada uma e a cada um de nós dizer, perceber ou sentir. O que nos orienta e que intentamos é insistir em uma das características marcantes da CIRCUITO, qual seja; a conexão entre temas, momentos e estéticas. Logo, no entrecruzar dos olhares neste dado momento histórico, não foi difícil nos apropriar da palavra contágio, tão petrificada nos dias atuais. A ideia seria ressignificar, transfigurar e nos livrarmos dessa carga que nos parecia insuportável. Contágio tornou-se, pois, a certeza, quase única, que tínhamos. Pois então... CONTÁGIO! CONTAGIEM-NOS! Passamos a bradar em brechas de respiro! E este feito deu frutos incríveis. Conosco embarcaram 40 artistas e escritor.s que se contagiaram e contagiaram nossas páginas de arte e cultura. Criou-se uma rede de transmissão de ideias, humor, política, visões de mundo, angústia, crítica, retratos e histórias. Algumas destas pessoas trouxeram memórias, outras tentaram imaginar o mundo que vem depois, tarefa nada fácil para o agora. Mas essa rede de transmissão ultrapassou nossa própria rede cultivada pela já tão tradicional forma de chamamento. O que eram obras do chamamento-contágio inicial (ou 1a onda), foram oferecidas a artistas que aceitaram se contagiar e criar suas obras a partir das primeiras. Fez assim a 2a onda com artistas, escritor.s que potencializaram essa propagação a um nível irreversível. E olha, aqui sim foi uma proposital! Um labirinto de sentires se fez e, como nada é como antes, esta edição teve como guia um mapa ramificado no qual cada leitora e leitor pôde se mover entre os mais diferentes contágios e, quiçá, contagiar-se também...deste modo, esta edição traz mais uma experiência para nós editor.s e leitor.s. Parafraseando a quarentena, foram lançados 24 trabalhos (compostos de 1a e 2a onda), um a um, a cada 40 horas. Esperamos que cada um desses trabalhos siga surgindo de forma livre, autônoma e revigorante. São materiais feitos de alívio e grito, escritos nas casas, devires, tocas e fortalezas que, ao olhar pela janela, avistavam um mundo tão nosso até outro dia e que agora reclama pelo re/des-aprender, enquanto trazem mais “perguntas em certezas”. São tessituras que atravessam os tempos e citações de citações de citações ou, se preferirem, de contágio em contágio em contágio que seguem numa profusão de proveniências incontornáveis em que a colagem e o existir se fazem via uma transliteração, uma transmutação e numa linguagem roubada em que, ao final, a autoria se dissolve ou já não mais importa ... Abramos as janelas, desviemo-nos do fascismo, roubemos um dito e deleitemo-nos! São os nossos desejos!